Quem vai salvar o super homem?

Em 2009, a atriz Mariana Ximenez estava em Salvador para gravar o filme Quincas Berro D’ água e, junto com o ator Paulo José, seu colega no elenco, foi nadar no mar de Itapuã, em uma folga das gravações. Sem perceber as fortes correntezas, foram sendo levados pra longe, não conseguindo mais voltar. Os salva-vidas entraram na água para socorre-los e, diz a lenda, que, ao chegarem perto, um deles a reconheceu, mas não lembrava seu nome. Porém, como ela tinha feito recentemente a personagem Lara na novela A Favorita, ele, sem hesitar, durante o salvamento, gritava:

– Calma, Lara… Calma.

Lenda ou não, como se sabe, o salvamento foi feito e ambos estão vivos.

Domingo de manhã fui em Jaguaribe praticar o bodysurf.
Entrando na água, reconheci Marcelo Freitas, conhecido como Aranha, um amigo, nadador e mito, com 25 travessias Mar Grande-Salvador no currículo e salva-vidas desde 1981. Ele estava chamando a atenção de dois banhistas que estavam se afastando. A correnteza estava forte.
– Vai nadar? – perguntou.
– Pegar jacaré – respondi.

Uma hora depois eu sai do mar. Ele estava no posto, sentado. Fui conversar com ele enquanto me secava e não pude deixar de perguntar, espantado, sobre as condições precárias do seu posto, que eu percebi, inicialmente, pelo cheiro. Ele me convidou pra entrar e mostrar que de frente para aquele paraíso, existia um limbo, esquecido pelas diversas prefeituras que se sucedem na capital baiana.

O local da vigília deveria ser no alto, mas o tal local não existe mais, corroído pelo salitre, impossibilitando assim os salva-vidas de ficarem em cima, a não ser que, além de exímios nadadores, eles tenham também a habilidade dos símios e possam se pendurar nos ferros.
– Entra prefeito e sai prefeito e nada é feito – disse o aracnídeo, que continuou: – Além das instalações estarem assim, como você está vendo, o material que a gente usa muitas vezes é a gente mesmo quem compra ou faz, como as camisas de manga longa pra se proteger do sol. A prancha, às vezes, atrapalha mais do que ajuda, pois não corta o mar como deveria. Não tem critério nas compras. A sunga que a prefeitura dá, se você mexe um pouco a perna, o ovo aparece. Parece que o prefeito não gosta de quem frequenta a praia. E olhe que essas pessoas aqui, como você, pagam impostos.
As queixas não paravam, mostrando que o Salvamar está contra a correnteza, se afogando, pedindo socorro.

– A Guarda Municipal está toda montada, fardamento, material, mas nós não somos nem recebidos pelo prefeito e eu vou te contar uma coisa: sabe o que a gente faz? A gente salva vidas. Se não fosse a gente, a quantidade de afogamento nas praias de Salvador seria inimaginável.

Ricardo Cury
30 de setembro de 2014 · Salvador ·

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